segunda-feira, 3 de março de 2008

Marajó: um paraíso sempre de portas abertas para o turista

Por: Benigna Soares*
Fotos: Elivaldo Pamplona*

Italianos, ingleses, franceses e muitos brasileiros têm deixado seus lugares de origem em busca da tranqüilidade e da beleza oferecida pelo maior arquipélago fluvial e marítimo do mundo, o Marajó. Embora os órgãos oficiais de turismo não tenham dados estatísticos de quantos são esses turistas que procuram aquela região, sabemos que representam boa parte dos cerca de 550 mil visitantes que o Pará recebe ao longo do ano, que quase sempre se dividem entre os pólos Belém, Tapajós e Marajó, segundo a Paratur – Companhia Paraense de Turismo.

Os visitantes são atraídos por uma paisagem inesquecível formada por campos cheios de búfalos independente da estação do ano, pássaros encantadores como os guarás e as garças, rios, furos trilhas, manguezais e igarapés fartos de vida e biodiversidade. São aproximadamente 3 mil ilhas grandes e pequenas e uma extensão territorial com cerca de 50 mil quilômetros quadrados só na maior delas, a do Marajó. Apesar da fragilidade do sistema de transporte o visitante tem boas opções de acesso, fluvial ou aéreo. Uma delas é saindo de balsa às 6h30 da manhã do porto da Henvil, localizado em Icoarací. Com capacidade para 50 veículos e 500 passageiros a balsa leva cerca de três horas para chegar até a ilha, mas a paisagem que revela ao longo do trajeto é prova de que vale a pena investir.

O primeiro contato com o Marajó é no Porto Câmara, em Salvaterra, onde vãs e ônibus transportam aqueles que não tem condução própria. É também o Camará o "divisor de águas" que permite ao turista escolher entre os 16 municípios que formam o arquipélago. Pela facilidade de acesso os mais procurados são Salvaterra, Soure e Cachoeira do Ararí.

Em Salvaterra os meios de hospedagem oferecem desde o requinte moderno das grandes pousadas ao aconchego familiar dos pequenos estabelecimentos. O diferencial está nos hotéis-fazendas que além dos serviços de acomodações oferecem roteiros de trilhas, cavalgadas e outras opções, enriquecidas por uma gastronomia regada à sucos de frutos naturais, como o bacuri, taperebá e cupuaçu. O queijo do Marajó, produzido com leite de búfala, é um sabor à parte, complemento nos pratos variados de peixes e carnes.

A professora aposentada Vera Modé saiu de Guarulhos (SP) com um grupo de dez pessoas, a maioria professores, em busca de contato com a natureza. Bastou um fim de semana em Salvaterra, na Pousada dos Guarás, para ela se sentir em casa. "Aqui é tudo muito agradável. Gostei muito da forma de falar destas pessoas, a concordância verbal dos moradores, inclusive das crianças, é perfeita" elogiou a educadora que antes da ilha, em Belém, aproveitou para conhecer o Ver-o-Peso, Estação das Docas e Teatro da Paz. O italiano de Padova, Moreno Prosdocimi tirou 30 dias de férias para percorrer o Brasil. Seu roteiro inclui cidades do sul, sudeste e nordeste. No Norte, além do Amazonas, escolheu Belém, Algodoal, Santarém e o Marajó. Aproveitou as trilhas e passeios da Fazenda São Jerônimo, em Soure, onde a TV Globo gravou seu primeiro reality show, No Limite. O lugar, 400 mil hectares, oferece trilhas na floresta, passeio de canoas em furos e igarapés, caminhadas sobre pontes encravadas no alto das raízes dos manguezais, com direito observação de pássaros, praias desertas e lendas indígenas marajoaras.

A fazenda é também um centro exportador de côco (7 mil unidades por mês), uma das fontes de renda do município. "Vim por causa da natureza, o que mais me atrai no Brasil. Peguei muita chuva, mas sabia que seria assim e pra mim não é problema". Conta Moreno, empresário que trabalha na exportação de motores para geladeiras e refrigeradores que se disse impressionado com o encontro das águas claras do rio Tapajós com as barrentas do Amazonas, em Santarém e com a beleza dos búfalos do Marajó.

Christian Gotsh, também da Itália, deixou a cidade de Monique há alguns dias para percorrer o Brasil. Depois de tanto ouvir a namorada falar bem do lugar resolveu conferir de perto. Ele relata que chegou ao Marajó de barco (farry boat), após embarcar no início da manhã na CDP. Ele diz que não vê problemas no meio de transporte, ao contrário "estou me sentindo na Amazônia", relata ao comemorar o fato de, ainda em Belém, ter caminhado no Ver-o-Peso, uma das sete maravilhas brasileiras, segundo a Revista Caras e o HSBC.

A operadora de turismo Michele Valério, da Rumos Turismo, já trabalha com pacotes turísticos fechados na Amazônia voltados ao público estrangeiro desde 2006. Começou pelo vizinho estado do Maranhão, incluindo em seu tarifário os lençóis maranhenses. Veio ao Pará em busca de novos produtos para compartilhar com o Amazonas, uma nova exigência do público consumidor que geralmente quer conhecer, ao mesmo tempo, os dois estados mais fortes da Amazônia. Foi conhecer no Marajó justamente o centro econômico mais desenvolvido, o município de Soure, que só em julho de 2007 teve uma receita superior a R$ 700 mil com o turismo.

Michele experimentou e aprovou as fazendas de búfalos e os meios de hospedagem, antes de retornar para Belém, de balsa, meio de transporte que, segundo ela "não deixa a desejar a nenhum país de primeiro mundo".Manteve contato, por exemplo, com seu Elias Nascimento Souza, 71 anos. Um filho de Soure que há seis anos descobriu que o turismo dá resultados e resolveu construir na praia semi-deserta de Barra Velha um quiosque para ganhar dinheiro."Espero os turistas sempre com uma cervejinha, um peixe frito e muita água de coco", relata o ancião enquanto abastece o quiosque com uma nova safra de coco, colhida às proximidades da praia.

Um outro roteiro no Marajó são as ruínas de Joanes, herança deixada pelos padres jesuítas que, apesar de bastante deteriorada, como denunciam lideranças comunitárias, ainda atrai pela riqueza da história.

A empresária Antônia França Crafford, casada com um cineasta inglês que trabalhou no filme Floresta das Esmeralda, estava residindo em Londres há 22 anos. Mas, entusiasta com o turismo e apaixonada pela terra natal, Marapanim, voltou pronta para investir no Pará. Está construindo, na praia de Joanes, a pousada e restaurante Maraximbé, um misto de casa de shows onde mostrará do carimbó aos ritmos mais marajoaras. O espaço será inaugurado em julho e será uma referência também para eventos de conscientização ambiental, como mutirões de limpeza das praias. Outro equipamento que vem agradando, em Salvaterra, é a Pousada do Boto, um lugar que oferece uma leitura completa em sua decoração e arquitetura, de uma das principais lendas amazônicas.


Artesanato - Referência internacional o artesanato do Marajó é uma marca registrada do Pará. Vasos, cerâmicas, objetos decorativos, sandálias de couro de búfalo, bolsas, jóias feitas com sementes, roupas e tantos outros utensílios podem ser adquiridos em vários cantos das cidades, especialmente no Museu do Marajó, em Cachoeira do Ararí e no Museu de Salvaterra, uma iniciativa das próprias artesãs locais que conseguiram da prefeitura um espaço físico para comercializar seus produtos. "Aqui vendemos nossa arte confeccionada com o que a natureza nos oferece", conta Margareth Conceição da Silva, uma das idealizadoras do espaço que há dois anos começou a mudar a relação comercial com os turistas.


Como podemos ver, embora o setor empresarial paraense venha desanimando em relação ao turismo no Marajó, ainda há quem acredita na força da região, apontada pelo Frommer´s, principal guia de turismo americano, como um dos mais fortes destinos do mundo. É o caso de Marcílio Miranda, da agência Happy Turismo, que fecha uma média de seis pacotes por mês para o arquipélago.

"Trabalho com o Marajó sempre me envolvendo com a comunidade, mostrando o que a ilha tem de melhor. Nosso público é do próprio Pará e do estrangeiro e não tenho do que reclamar", comemora o empresário de Belém.

* Benigna Soares é presidente da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo do Pará, especialista em Cultura e Midiologia das Sociedades Contemporâneas e assessora da Belemtur.
Elivaldo Pamplona é membro da Abrajet Pará, repórter fotográfico da Prefeitura de Belém e de O Liberal.

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