quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Carimbó: ritual contagiante de sedução que expressa a força musical do Pará


Mesmo com todo sucesso da atual música paraense no cenário nacional e internacional como é o caso do tecnobrega, não há como negar que a maior referência musical do Pará é ainda o carimbo, cuja palavra é de origem indígena, Tupinambá, sendo o nome tirado do Tupi-Guarani “Curimbó”, de curi (pau ôco) e m'bó (escavado). A junção desses sons dá origem à “pau que produz som”. Muito antes de ser apenas um ritmo paraense, é uma das mais expressivas manifestações culturais do estado. O segredo talvez esteja na tradição: desde que foi criado pelos índios mundurucus, o carimbó já recebeu influência dos brancos portugueses e dos negros africanos.

A dança quase sempre segue o mesmo ritual: forma-se uma fileira de homens e outra de mulheres, um de frente pro outro. Com o início da música os homens vão em direção às mulheres e batem palmas chamando para a dança. Formam-se, então os pares que giram continuamente em torno de si mesmos e faz-se a roda. A partir daí há várias formas da dança  que foram incorporadas ao ritmo ao longo de séculos de história. Apreciar o carimbo, um mix de sedução e expressão cultural,  é sempre contagiante.


O carimbó é uma manifestação tão importante que já é reconhecida por lei.  Em 03 de dezembro de 2009 uma lei estadual declarou a dança do carimbó como patrimônio histórico e artístico do Pará. Além disso, já há uma mobilização desde 2006 de grupos de carimbó e entidades culturais de vários municípios para tornar esta manifestação paraense patrimônio cultural imaterial do Brasil.

Atualmente um importante representante desta manifestação no Pará é o município de Marapanim, localizado no pólo turístico Amazônia Atlântica. Distante 170 km da capital Belém, Marapanim carrega orgulhosamente  o importante título de capital mundial do carimbó, afinal  foi nesta região que, trazidos por pescadores marajoaras, o ritmo se solidificou e ganhou o nome que tem hoje.  É neste município, ainda, que ocorre o mais importante festival dedicado ao ritmo, o Festival do carimbó de Marapanim - o Canto Mágico da Amazônia, que acontece anualmente desde 2004, atraindo cerca de 30 mil visitantes. O evento inclui, entre outras atrações, os concursos de música nas mais variadas vertentes do carimbó, mostras coreográficas, festival gastronômico e o Concurso da mais Bela Sereia do Festival.

Ranilson Trindade, um apaixonado pelo carimbó e por seu município idealizou o festival. Sua luta é de dá orgulho a qualquer paraense. “Eu nunca fiz uma composição, não sou mestre, não toco muito bem. Mas tenho o carimbo em meu coração e luto para que ele sobreviva em nossas raízes culturais, passe de geração a geração”. Conta Ranilson. Ele recorda que a primeira vez que Marapanim apresentou um grupo organizado de carimbo fora das fronteiras da cidade foi em 1950. “Eu tinha 11 anos de idade e uma família de Marapanim me abordou no Centro Cultural Brasil Estados Unidos. Queria uma apresentação especial para o cônsul americano da época, o “Mister Colman”. Organizei a vinda do grupo e dancei com eles”. Relembra Ranilson emocionado com  a missão que recebeu ainda menino, na época com apoio do folclorista Paulo Maranhão Filho, que tinha elos com o jornal a Folha do Norte. “Esse jornal deu ao carimbo de Marapanim muito apoio”. Relata o presidente da Associação de Carimbó de Marapanim (Amatur), uma entidade guardião dessa tradição cultural, que pode ser vista m outros municípios, como Curuçá, São Caetano de Odivelas, no arquipélago do Marjó, melhor dizendo, em todo o Pará, seja no estilo “de raiz”, seja o ritmo “livre”, com interferências de instrumentos e arranjos estilizados mais modernos.

OFICINAS -  Visando fortalecer o Festival de Carimbó como produto turístico de Marapanim e como um forte atrativo do Pará, a Companhia Paraense de Turismo, (Paratur) firmou parcerias com algumas instituições para oferecer oficinas de qualificação profissional no município, entre elas de audiovisual, moda com a temática do carimbó, fotografia, gastronomia e instrumental, neste caso percussão e criatividade.  Através do Instituto de Artes do Pará (IAP), foram ofertadas as oficinas de audiovisual, que aconteceram em duas etapas (uma em outubro e a segunda no início deste novembro) e a oficina de moda “Veste Carimbó”,  realizada na segunda quinzena de novembro. Já a oficina de fotografia, realizada no final de novembro, resulta de uma parceria com a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo do Estado do Pará (ABRAJET Pará). A Abrasel – Associação Brasileira de Bares, Restaurantes e Similares, do Pará, é parceira na oficina de aprimoramento à gastronomia de Marapanim, que tem como carro chefe o arroz marapaniense, feito à base de mexilhão e ingredientes locais. Cerca de 40 estudantes de escolas públicas municipais participaram da oficina de percussão, aprendendo a construir, assim como os índios um dia fizeram, seus próprios instrumentos musicais, que dão vida ao carimbó.

A jovem Tainá Gomes Trindade, 13 anos, sonha m ser engenheira. Mas, apesar de dançar vários ritmos desde criança se identifica muito com o carimbo. “Amo dançar. Consigo expressar toda a minha alegria quando eu danço e isso é muito importante pra mim”. Explica a jovem que faz parte do grupo Uirapuru, um dos mais tradicionais de Marapanim.

Jean Barros durante muitos anos foi guia de turismo de Marapanim. Apresentava aos turistas o que há de melhor naquele município, cujo significado do nome é borboleta branca ou borboleta do mar, tendo em vista a grande quantidade de borboletas que viviam na região, em especial às margens do rio Marapanim. Com o tempo passou a dançarino profissional de carimbo. Em 2006 descobriu que podia ir além inspirado pelo carimbo e se apaixonou pela fotografia. “Hoje sou fotógrafo profissional, graças ao apoio de um fotógrafo trazido ao festival pela Paratur”. Conta Jean, que fez do carimbo, da fotografia e do turismo importantes instrumentos de trabalho, lazer e realização profissional, assim como muitos outros habitantes da cidade.

O Festival de Carimbó de Marapanim está previsto pra correr no mês de janeiro de 2011.


Texto e fotos: Wanderson Curcino e Benigna Soares (Paratur/Abrajet Pará)