terça-feira, 10 de julho de 2012

Cultura de Santarém entra no mapeamento cultural do Prodetur Pará

Por: Benigna Soares - Paratur/Abrajet

Procissão fluvial de São Pedro no rio Tapajós em
 Alter-do-Chão,  Santarém-Pa
A paisagem do Tapajós, em diversos municípios às margens desse rio amazônico que dá nome a uma das mais ricas e belas regiões turísticas do Pará, virou cenário na última sexta-feira, dia 29, das procissões de São Pedro, celebradas em todo o Brasil, em países cristão e outros influenciados pela religião católica. Marcados por arraiás, comidas típicas, danças de quadrilhas juninas e outras atividades, no Tapajós, mais especialmente na vila santarena de Alter-do-Chão, um novo ritual encanta turistas e nativos. É a procissão fluvial, que envolve dezenas de embarcações enfeitadas, que além da imagem de São Pedro transportam ribeirinhos que vivem em comunidades no entorno da vila, entre eles de Aritapera, Pindobal e da sede de Santarém. O ritual, engrandecido com batuques de carimbo e outros ritmos tocados por uma banda de música no barco que transporta a imagem, é assistido por turistas de todo o Brasil e muitos do exterior.

Ribeirinhos Borari se misturam aos turistas durante procissão
“As manifestações culturais precisam ser preservadas no sentido da sua originalidade e tradição. As de origem religiosa são representações importantes do nosso Estado, principalmente as relacionadas com nossos rios, por que refletem a relação direta das comunidades com as águas”. Disse Márcia Bastos, coordenadora do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), executado no Pará pela Companhia Paraense de Turismo (Paratur), com apoio da Secretaria de Estado de Turismo (Setur). Márcia está na região do Tapajós justamente fazendo mapeamento cultural de manifestações culturais e produções artesanais, entre outros, em comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas, visando a inclusão em roteiros turísticos. “Um exemplo dessa relação entre as águas e as tradições culturais é o Círio de Nazaré em Belém e os pequenos círios, como o de São Pedro, em Alter-do Chão. Vale ressaltar que os rios Tapajós e Amazonas estão intrinsecamente relacionados ao modo de vida das comunidades locais, a exemplo da comunidade de Aritapera, que faz parte do campo de mapeamento do Prodetur, onde as famílias desenvolvem suas atividades em dois tempos diferentes, durante o verão e durante as cheias do Amazonas”. Explica Márcia ao informar que em Aritapera se destacam as mulheres artesãs que produzem cuias, hoje um patrimônio cultural do Pará.

O assunto vem sendo discutido no Tapajós desde a última terça-feira, dia 26, quando através de um workshop a equipe do Prodetur apresentou o andamento do projeto às comunidades indígenas de Bragança e Marituba, onde vivem índios munduruku em Belterra.

Alunos, pesquisadores, comunidades Borari, Bragantina e
 de Marituba no lançamento, pelo Prodetur e Paratur,
do livro Aritapera: Terra, Água, Mulheres e Cuias”
Na sexta o workshop foi realizado na sede do Sebrae em Santarém, para representantes da comunidade de Aritapera, associações de artesãos, entre outros. “A proposta é incentivar o turismo de base comunitária, mas de forma sustentável, nas comunidades indígenas e quilombolas. O programa visa resgatar o maior número de lendas, mitos, produções literárias, acervo antropológico”. Informou Vladmir Barbosa, técnico do Prodetur, ao explicar que centros de referência também estão previstos para serem construídos a partir da parceria com as comunidades locais e que outros devem entrar no inventário turístico do Programa, a exemplo do “João Flona” e do “Dica Frazão”, guardiões do patrimônio cultural e de artesanato do Tapajós, localizado em  Santarém.
 
Participaram do workshop, representantes do Sebrae, da população Borari, da Prefeitura de Santarém, Secretaria Municipal de Produção Familiar, da Universidade Federal do Tapajós (Ufopa), Associação de Artesãs Ribeirinhas de Aritapera (Asarisan), além de estudantes da Ufopa que contribuíram com a edição do livro Aritapera: Terra, Água, Mulheres e Cuias”, lançado dia 23 de junho em Belém durante a Feira Internacional de Turismo da Amazônia (Fita) e relançado durante o workshop no Sebrae. Organizado pelo Antropólogo Antônio Maria Santos, do Museu Paraense Emílio Goeldi, o livro é o primeiro resultado do Mapeamento Cultural do Prodetur no Tapajós.

Setur e Paratur querem aproximar cada vez mais os
 turistas das comunidades e aumentar a permanência em
destinos indutores como o Tapajós
Entre os estudantes que contribuíram com o trabalho está Andrea Gizelle Costa, de 29 anos, orgulhosa em ter contribuído com a pesquisa que resultou no livro, com o artigo Iconografia atualizada das cuias do Aritapera”. Estudei o padrão decorativo das cuias antes de depois da intervenção dos antropólogos”. Disse a estudante.

Também contribuíram com artigos para o livro Igor Cunha, Judith Vieira, Zenilda Bentes, Jeferson Sampaio Júnior e Ádria de Souza, todos alunos da Ufopa.
 
Também contribuiu com a obra Rubia Goreth Almeida Maduro, 26 anos, filha da própria comunidade de Aritapera. Mais do que fazer parte da obra ela pode expressar, com a experiência de quem faz parte do cotidiano da comunidade, as tradições das mulheres artesãs de Arirapera. “A mesma terra que tem solo fértil para a cuieira, árvore nativa da área de várzea, também vive a dinâmica da sazonalidade – enchente e vazante dos rios – cada ano mais freqüente e com cheias ainda maiores, que fortalecem ainda mais as mulheres a se tornarem mais resistentes em relação às condições naturais, bem como ao trabalho, artesanal que tem uma ligação simbólica com o elemento feminino: terra-água-mulher-cuia”. Relata Gorethi, no artigo “A Cuia Nossa de Cada Dia”, feliz com o resultado da obra que inspirou.

A professora Luciana Carvalho ensina Antropologia na Ufopa, mas desde 2002 entrou em contato com Aritapera, a serviço do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Rio de Janeiro. “Acho que o grande ganho do livro é ter a participação dos estudantes. Eles leram Antônio Maria sem imaginar que um dia iriam conhecê-lo, ou publicar com ele”. Relata Luciana ao narrar a evolução do trabalho das artesãs de Aritapera, que já viu vender uma dúzia de cuias por três reais e hoje vendem apenas uma pelo mesmo valor e até por muito mais, uma valoração que permitiu que em vez de expor seus produtos de qualquer forma, em qualquer lugar hoje são capazes de expor como obra de arte, com valor simbólico, cultural e econômico em grandes museus do Rio de Janeiro e do Mundo.

Sobre a inclusão desse tipo de produção e manifestação cultural no turismo de base comunitária, objetivo do Prodetur e do Governo do Pará, Luciana afirma que o Antropólogo pode ser um mediador, a medida que auxilia na interlocução das comunidades com outros setores, a exemplo do turismo. “Se a comunidade entender que assim é”. Conclui Luciana ao explicar que embora o turismo e antropologia não mantenham relação direta, a Antropologia tem desenvolvido pesquisas na área do turismo.

Equipe do Prodetur leva workshop a diversas
comunidades  de Belém, Marajó e Tapajós
 ALTER-DO-CHÃO – Ainda em Alter do Chão a temática do mapeamento cultural do Prodetur foi apresentada ao empresariado da hotelaria na tarde da última sexta-feira, dia 29, no Belo Alter Hotel. Márcia Bastos falou aos mais de 20 participantes da reunião sobre a importância do diálogo com toda a sociedade para que as ações previstas no Prodetur possam trazer bons resultados a todos. Márcia ressaltou que o Prodetur prevê recursos de 44 milhões de dólares oriundos de financiamento pleiteado pelo Governo do Estado junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) a serem investidos em Belém, Marajó e Tapajós. Acrescentou que além de obras de infraestrutura, como o Centro de Convenções de Santarém, recursos do Estado, está previsto, através do Prodetur, um Observatório de Turismo para o Tapajós, que englobará também resultado de pesquisas no turismo desenvolvidas localmente.

Turismo de Santarém premiado pelo MTur pela excelência
no  monitoramento, marketing e cooperação regional do
 Destino Indutor do Turismo
Irene Belo, proprietária do Belo Alter e membro do Convention & Visitors Bureau do Tapajós, apresentou na oportunidade as três premiações conquistadas pelo pólo junto ao Ministério do Turismo, através do programa 65 Destinos Indutores do Turismo (MTUR), executado com apoio do Sebrae Nacional e da Fundação Getúlio Vargas. Santarém foi premiada nas categorias Cooperação Regional, Marketing e Promoção do Destino e Monitoramento”. O resultado do desempenho do município nesse e em outros programas foi apresentado ao trade pelo assessor da Secretaria Municipal de Turismo de Santarém. Entre os participantes estavam dirigentes de vários hotéis e pousadas, entre eles do Hotel Mirante da Ilha.

Na tarde de sábado, no Centro de Convivência do Idoso, o workshop foi apresentado à comunidade Borari. Artesãos, catraeieiros, empresários de pousadas, lancheiros e outros que buscam qualificação profissional participaram do evento. Além de apresentar as ações previstas para mapeamento cultural e observatório do turismo através do Prodetur, a equipe da Paratur e Setur apresentou o Programa Estadual de Qualificação Profissional no Turismo (PEQTUR), através do qual o Governo do Estado, seguindo direcionamentos do Plano Ver-o-Pará pretende qualificar mais de 10.500 pessoas até 2015 que atuam direta e indiretamente com o turismo. Para este segundo semestre o plano deve beneficiar cerca de 1.500 trabalhadores.



Artesãs, lancheiros, catraieiros e outros profissionais
de Santarém celebram a chegada do Prodetur  e
PEQTur no Tapajós
 O workshop Prodetur, já foi realizado pela Paratur e Setur este mês no arquipélago do Marajó, em Belém, Icoaraci e Cotijuba, Além de Santarém e Belterra. A partir desta segunda-feira vão realizar nas aldeias indígenas da etnia Way Way, e na comunidade quilombola Cachoeira do Chuvisco, em Oriximiná. Socorro Costa, presidente da Companhia Paraense de Turismo (Paratur), explica que o resultado desse trabalho vai garantir novos produtos, mais atraentes aos turistas que buscam a vivência nas camunidades. "O turismo de base comunitária vem sendo cada vez mais procurados. A Paratur quer mapeá-los e, ao promovê-los,  tornar nosso estado ainda mais competitivo". Garante.


A floresta encantada, em Alter-do-Chão é um atraivo
 natural   irresstível em tempos de cheias do rio Tapajós
 Adenauer Góes, Secretário de Turismo do Pará, diz que o mapemanto cultural, a qualificação da mão de obra e o observatório do turismo também são metas da Setur que visam o cumprimento do papel do Estado de dialogar e estar próximo dessas comunidades. "Gerar emprego, renda e qualidade de vida aos paraenses e aqueles que noso visitam é a meta principal do Governo do Estado ao priorizar o turismo como atividade econômica". Garante Adenauer, ao explicar que as ações estão todas direcionadas no Plano Estratégico de Turismo Ver-o-Pará, lançado em 2011 pelo Governador Simão Jatene, quando também criou a Setur.

Fotos: Benigna Soares: Paratur/Abrajet

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário