Mocajuba: eterna espera por turistas e olhares dos governantes

O município de Mocajuba, no Nordeste do Pará, localizado a 173 quilômetros de Belém, ou quatro horas de viagem seguindo pela Alça Viária, é um desses lugares que você visita e encontra um pouco de tudo que procura em um feriado: natureza, praia de água doce às margens do rio Tocantins, tranqüilidade, festas, religiosidade e muita receptividade da população, que ultrapassa 20 mil habitantes.

Mocajuba é uma palavra originária do vocabulário indígena Nheengatu e significa “lugar abundante de mucajá”. E mucajá uma palmeira que origina fruto adocicado, matéria prima da gastronomia local, especialmente de um mingau muito consumido. À primeira vista o visitante acostumado com a correria da cidade grande se recente de não encontrar por lá em época de feriado multidões de turistas. Entretanto, a forma de receber o visitante acaba criando uma relação de cumplicidade com os nativos.

Um passeio completo nas principais ruas da cidade revela dois bons hotéis, um presídio bem estruturado, um mercado municipal que serve de modelo para toda região, algumas igrejas evangélicas e uma igreja católica Matriz, que nesta semana de Páscoa comandou os festejos religiosos com missas vigílias e procissão do “Senhor Morto”. A igreja de Nossa Senhora da Conceição traz em sua arquitetura um pouco do traçado histórico da cidade. Embora nunca tivesse sido concluída a obra, na Praça da Conceição, desperta interesse dos visitantes e é bem acolhedora.

Um atrativo à parte é a orla da cidade, embora com pouca infra-estrutura, uma imperdoável negligência do poder municipal e do governo do Estado, lá se reúnem os visitantes, os jovens, as crianças, na verdade famílias inteiras aproveitam as manhãs e as tardes ensolaradas para apreciar a Prainha ou mesmo observar o vai e vem das embarcações que rumam para Cametá e outros municípios. Nos barcos, o abastecimento da cidade: carnes, peixes, farinha, camarão, frutos, roupas e outros produtos. O porto também serve para escoar a produção local, que tem a pimenta do reino e o cacau como carro chefe, para Belém e outros municípios.

No centro comercial, na Primeira Rua, o movimento é intenso, principalmente em volta do Mercado Municipal. O prédio, às margens do rio, serve de modelo para toda a Região e não está aquém de muitos shoppings das grandes cidades. Os moradores costumam até brincar com o nome do espaço, atribuindo a ele a denominação de shoppings de Belém.

Embora tenha vocação para o turismo esse segmento é pouco explorado no município cuja origem remonta de 1853, quando ainda denominava-se Maxi. Mas, nos cerca de 967 km de Mocajuba encontramos como atrativos turísticos as ilhas de Santana, Camaleão, Jutuba, Rosário, Rufino e Angapijó.

A cidade, bem saneada e com poucos problemas demográficos já que tem uma população pequena, tem cinco praças: Praça da Conceição, que é a praça central da Igreja Matriz; Praça do Estudante, principal ponto de encontro; Praça do Rosário, no bairro do arraial; Praça da Caixa D’água, no bairro de mesmo nome e a Praça do Terminal.

As praias que se destacam são a de Gorgons, do Camaleão, Prainha, do Zizi. Além do rio Tocantins, também são referências no município o rio Icatu, os igarapés Jambuaçu, Maia, Xipucu e os furos Esmeralda, Pitinga, Tatuoca e Lacaio.

Pra quem deseja conhecer Mocajuba alguns eventos a tornam mais atraente, como a
Semana Estudantil Mocajubense, em julho, Festival Toco Cru Pegando Fogo, em junho, quando também ocorre o festival junino da cidades. Círio de N. Sr.a da Conceição, em dezembro, Círio de N. Sr.a do Rosário e Círio da Santíssima Trindade dos Inocentes, em setembro, são opções para o turismo religioso.

Para os amantes da folia carnavalesca, das rodas de pagode e das micaretas de julho, quando o município é mais procurado, uma alternatica é o bloco Matinta Pereira, que está sempre animando a cidade ano todo.

Enquanto o olhar dos governantes não atenta para a necessidade de fortes políticas de geração de emprego e renda, fortalecimento da educação e da saúde pública e fomento ao turismo naquela região, os mocajubenses, ilhados por uma estrada esburacados e pelo pedágio na travessia de duas balsas, vão levando a vida embalados pelas marés do rio Tocantins, se contentando com um açaí sem cor e sem sabor já que o “grosso” da produção tem destino certo nos centros comerciais da capital e outros Estados.

Resta aos moradores de Mocajuba o orgulho de preservar sua cultura, seus hábitos e valores e a vergonha de saber que de lá veio a menina que virou personagem principal de uma triste história que ganhou destaque na mídia mundial, a prática da pedofilia envolvendo um deputado. Resta ainda, a esperança de que cada vez mais visitantes vão encontrar o caminho que leva até Mocajuba e tragam com eles, além da boa lembrança de uma cidade que sabe acolher os turistas, a mensagem de que o mocajubense também é paraense e precisa de investimentos do poder público (Benigna Soares - Presidente da Abrajet Pará )