Procissão fluvial de São Pedro no rio Tapajós em Alter-do-Chão, Santarém-Pa |
A paisagem do Tapajós, em diversos
municípios às margens desse rio amazônico que dá nome a uma das mais
ricas e belas regiões turísticas do Pará, virou cenário na última
sexta-feira, dia 29, das procissões de São Pedro, celebradas em todo o
Brasil, em países cristão e outros influenciados pela religião católica.
Marcados por arraiás, comidas típicas, danças de quadrilhas juninas e
outras atividades, no Tapajós, mais especialmente na vila santarena de
Alter-do-Chão, um novo ritual encanta turistas e nativos. É a procissão
fluvial, que envolve dezenas de embarcações enfeitadas, que além da
imagem de São Pedro transportam ribeirinhos que vivem em comunidades no
entorno da vila, entre eles de Aritapera, Pindobal e da sede de
Santarém. O ritual, engrandecido com batuques de carimbo e outros ritmos
tocados por uma banda de música no barco que transporta a imagem, é
assistido por turistas de todo o Brasil e muitos do exterior.
Ribeirinhos Borari se misturam aos turistas durante procissão |
“As manifestações culturais precisam
ser preservadas no sentido da sua originalidade e tradição. As de
origem religiosa são representações importantes do nosso Estado,
principalmente as relacionadas com nossos rios, por que refletem a
relação direta das comunidades com as águas”. Disse Márcia Bastos,
coordenadora do Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo
(Prodetur), executado no Pará pela Companhia Paraense de Turismo
(Paratur), com apoio da Secretaria de Estado de Turismo (Setur). Márcia
está na região do Tapajós justamente fazendo mapeamento cultural de
manifestações culturais e produções artesanais, entre outros, em
comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas, visando a inclusão em
roteiros turísticos. “Um exemplo dessa relação entre as águas e as
tradições culturais é o Círio de Nazaré em Belém e os pequenos círios,
como o de São Pedro, em Alter-do Chão. Vale ressaltar que os rios
Tapajós e Amazonas estão intrinsecamente relacionados ao modo de vida
das comunidades locais, a exemplo da comunidade de Aritapera, que faz
parte do campo de mapeamento do Prodetur, onde as famílias desenvolvem
suas atividades em dois tempos diferentes, durante o verão e durante as
cheias do Amazonas”. Explica Márcia ao informar que em Aritapera se
destacam as mulheres artesãs que produzem cuias, hoje um patrimônio
cultural do Pará.
O assunto vem sendo discutido no
Tapajós desde a última terça-feira, dia 26, quando através de um
workshop a equipe do Prodetur apresentou o andamento do projeto às
comunidades indígenas de Bragança e Marituba, onde vivem índios
munduruku em Belterra.
Alunos, pesquisadores, comunidades Borari, Bragantina e de Marituba no lançamento, pelo Prodetur e Paratur, do livro Aritapera: Terra, Água, Mulheres e Cuias” |
Na sexta o workshop foi realizado na
sede do Sebrae em Santarém, para representantes da comunidade de
Aritapera, associações de artesãos, entre outros. “A proposta é
incentivar o turismo de base comunitária, mas de forma sustentável, nas
comunidades indígenas e quilombolas. O programa visa resgatar o maior
número de lendas, mitos, produções literárias, acervo antropológico”.
Informou Vladmir Barbosa, técnico do Prodetur, ao explicar que centros
de referência também estão previstos para serem construídos a partir da
parceria com as comunidades locais e que outros devem entrar no
inventário turístico do Programa, a exemplo do “João Flona” e do “Dica
Frazão”, guardiões do patrimônio cultural e de artesanato do Tapajós,
localizado em Santarém.
Participaram do workshop,
representantes do Sebrae, da população Borari, da Prefeitura de
Santarém, Secretaria Municipal de Produção Familiar, da Universidade
Federal do Tapajós (Ufopa), Associação de Artesãs Ribeirinhas de
Aritapera (Asarisan), além de estudantes da Ufopa que contribuíram com a
edição do livro Aritapera: Terra, Água, Mulheres e Cuias”, lançado dia
23 de junho em Belém durante a Feira Internacional de Turismo da
Amazônia (Fita) e relançado durante o workshop no Sebrae. Organizado
pelo Antropólogo Antônio Maria Santos, do Museu Paraense Emílio Goeldi, o
livro é o primeiro resultado do Mapeamento Cultural do Prodetur no
Tapajós.
Setur e Paratur querem aproximar cada vez mais os turistas das comunidades e aumentar a permanência em destinos indutores como o Tapajós |
Entre os estudantes que
contribuíram com o trabalho está Andrea Gizelle Costa, de 29 anos,
orgulhosa em ter contribuído com a pesquisa que resultou no livro, com o
artigo Iconografia atualizada das cuias do Aritapera”. Estudei o padrão
decorativo das cuias antes de depois da intervenção dos antropólogos”.
Disse a estudante.
Também contribuíram com artigos para
o livro Igor Cunha, Judith Vieira, Zenilda Bentes, Jeferson Sampaio
Júnior e Ádria de Souza, todos alunos da Ufopa.
Também contribuiu com a obra Rubia
Goreth Almeida Maduro, 26 anos, filha da própria comunidade de
Aritapera. Mais do que fazer parte da obra ela pode expressar, com a
experiência de quem faz parte do cotidiano da comunidade, as tradições
das mulheres artesãs de Arirapera. “A mesma terra que tem solo fértil
para a cuieira, árvore nativa da área de várzea, também vive a dinâmica
da sazonalidade – enchente e vazante dos rios – cada ano mais freqüente e
com cheias ainda maiores, que fortalecem ainda mais as mulheres a se
tornarem mais resistentes em relação às condições naturais, bem como ao
trabalho, artesanal que tem uma ligação simbólica com o elemento
feminino: terra-água-mulher-cuia”. Relata Gorethi, no artigo “A Cuia
Nossa de Cada Dia”, feliz com o resultado da obra que inspirou.
A professora Luciana Carvalho ensina
Antropologia na Ufopa, mas desde 2002 entrou em contato com Aritapera, a
serviço do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Rio de
Janeiro. “Acho que o grande ganho do livro é ter a participação dos
estudantes. Eles leram Antônio Maria sem imaginar que um dia iriam
conhecê-lo, ou publicar com ele”. Relata Luciana ao narrar a evolução do
trabalho das artesãs de Aritapera, que já viu vender uma dúzia de cuias
por três reais e hoje vendem apenas uma pelo mesmo valor e até por
muito mais, uma valoração que permitiu que em vez de expor seus produtos
de qualquer forma, em qualquer lugar hoje são capazes de expor como
obra de arte, com valor simbólico, cultural e econômico em grandes
museus do Rio de Janeiro e do Mundo.
Sobre a inclusão desse tipo de
produção e manifestação cultural no turismo de base comunitária,
objetivo do Prodetur e do Governo do Pará, Luciana afirma que o
Antropólogo pode ser um mediador, a medida que auxilia na interlocução
das comunidades com outros setores, a exemplo do turismo. “Se a
comunidade entender que assim é”. Conclui Luciana ao explicar que embora
o turismo e antropologia não mantenham relação direta, a Antropologia
tem desenvolvido pesquisas na área do turismo.
Equipe do Prodetur leva workshop a diversas comunidades de Belém, Marajó e Tapajós |
ALTER-DO-CHÃO – Ainda em Alter do
Chão a temática do mapeamento cultural do Prodetur foi apresentada ao
empresariado da hotelaria na tarde da última sexta-feira, dia 29, no
Belo Alter Hotel. Márcia Bastos falou aos mais de 20 participantes da
reunião sobre a importância do diálogo com toda a sociedade para que as
ações previstas no Prodetur possam trazer bons resultados a todos.
Márcia ressaltou que o Prodetur prevê recursos de 44 milhões de dólares
oriundos de financiamento pleiteado pelo Governo do Estado junto ao BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) a serem investidos em Belém,
Marajó e Tapajós. Acrescentou que além de obras de infraestrutura, como o
Centro de Convenções de Santarém, recursos do Estado, está previsto,
através do Prodetur, um Observatório de Turismo para o Tapajós, que
englobará também resultado de pesquisas no turismo desenvolvidas
localmente.
Turismo de Santarém premiado pelo MTur pela excelência no monitoramento, marketing e cooperação regional do Destino Indutor do Turismo |
Irene Belo, proprietária do Belo
Alter e membro do Convention & Visitors Bureau do Tapajós,
apresentou na oportunidade as três premiações conquistadas pelo pólo
junto ao Ministério do Turismo, através do programa 65 Destinos
Indutores do Turismo (MTUR), executado com apoio do Sebrae Nacional e da
Fundação Getúlio Vargas. Santarém foi premiada nas categorias
Cooperação Regional, Marketing e Promoção do Destino e Monitoramento”. O
resultado do desempenho do município nesse e em outros programas foi
apresentado ao trade pelo assessor da Secretaria Municipal de Turismo de
Santarém. Entre os participantes estavam dirigentes de vários hotéis e
pousadas, entre eles do Hotel Mirante da Ilha.
Na tarde de sábado, no Centro de
Convivência do Idoso, o workshop foi apresentado à comunidade Borari.
Artesãos, catraeieiros, empresários de pousadas, lancheiros e outros que
buscam qualificação profissional participaram do evento. Além de
apresentar as ações previstas para mapeamento cultural e observatório do
turismo através do Prodetur, a equipe da Paratur e Setur apresentou o
Programa Estadual de Qualificação Profissional no Turismo (PEQTUR),
através do qual o Governo do Estado, seguindo direcionamentos do Plano
Ver-o-Pará pretende qualificar mais de 10.500 pessoas até 2015 que atuam
direta e indiretamente com o turismo. Para este segundo semestre o
plano deve beneficiar cerca de 1.500 trabalhadores.
Artesãs, lancheiros, catraieiros e outros profissionais de Santarém celebram a chegada do Prodetur e PEQTur no Tapajós |
O workshop Prodetur, já foi
realizado pela Paratur e Setur este mês no arquipélago do Marajó, em
Belém, Icoaraci e Cotijuba, Além de Santarém e Belterra. A partir desta
segunda-feira vão realizar nas aldeias indígenas da etnia Way Way, e na
comunidade quilombola Cachoeira do Chuvisco, em Oriximiná. Socorro
Costa, presidente da Companhia Paraense de Turismo (Paratur), explica
que o resultado desse trabalho vai garantir novos produtos, mais
atraentes aos turistas que buscam a vivência nas camunidades. "O turismo
de base comunitária vem sendo cada vez mais procurados. A Paratur quer
mapeá-los e, ao promovê-los, tornar nosso estado ainda mais
competitivo". Garante.
A floresta encantada, em Alter-do-Chão é um atraivo natural irresstível em tempos de cheias do rio Tapajós |
Adenauer Góes, Secretário de Turismo do Pará, diz que o mapemanto
cultural, a qualificação da mão de obra e o observatório do turismo
também são metas da Setur que visam o cumprimento do papel do Estado de
dialogar e estar próximo dessas comunidades. "Gerar emprego, renda e
qualidade de vida aos paraenses e aqueles que noso visitam é a meta
principal do Governo do Estado ao priorizar o turismo como atividade
econômica". Garante Adenauer, ao explicar que as ações estão todas
direcionadas no Plano Estratégico de Turismo Ver-o-Pará, lançado em 2011
pelo Governador Simão Jatene, quando também criou a Setur.
Fotos: Benigna Soares: Paratur/Abrajet
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